segunda-feira, 25 de junho de 2012

Amor fatal - Cap.1





Era uma noite calma de verão, mas Dora sentia frio. Seu cabelo preto brilhava à luz da lua, e seus olhos negros fitavam o reflexo na água. Sangue começou a escorrer pelo canto de sua boca. Dora chorava. Uma mão tocou seu ombro; a jovem se virou para seu assassino, sorriu pela última vez. 


Tudo começara em uma noite como aquela. Dora estava em um parque à noite, caminhando. Fazia alguns dias que a insônia a incomodava, os passeios estavam se tornando frequentes. O parque parecia mais calmo à noite, apenas o barulho do vento e o brilho das estrelas. Era uma sensação de tranquilidade que acalmava o coração inquieto dela. Faziam exatamente três meses que seu noivo falecera em um acidente de carro. Ainda era difícil acreditar que todo aquele pesadelo estava mesmo acontecendo, era como se uma parte da vida de Dora fosse roubada. Mas ela não desistiria de viver, precisava continuar por ele. Lágrimas vinham toda vez que lembrava do rosto de seu amado, daria tudo para vê-lo novamente.
A chuva começou a cair, mas Dora não se importou. Continuou caminhando até chegar à pequena capela no fim do parque, onde encolheu-se em um canto e adormeceu. Um pouco depois, acordou com um barulho estranho. Levantou-se assustada, era hora de voltar para casa. Correu pelo parque procurando a saída, mas não conseguia ver direito por onde ia. Parou por alguns minutos, já não sabia mais onde estava. Parou e tentou se acalmar, sentou-se embaixo de uma árvore e olhou fixamente para o céu. Ouviu passos. Uma silhueta surgiu em sua frente, era um homem ruivo, esbelto e de olhos verdes. Era ele. O coração de Dora disparou. Pensou estar sonhando, mas o frio e a chuva gelada em sua pele a mantinham bem acordada.
 - Você está bem?
Dora continuava boquiaberta. Esfregou os olhos, o homem continuava lá. 
- Erick...?
- Desculpe, acho que está me confundindo com alguém.
Dora não conseguiu mais falar. A semelhança era muita e seu coração estava cada vez mais apertado. Mal prestava atenção no que ele dizia, mas levantou-se e foi com ele. Balbuciava algumas respostas, ainda estava assustada. Não gostava de falar com estranhos, mas aquele homem não parecia ser um desconhecido; Dora sentia que já o conhecia. Saíram do parque e caminharam pelas ruas desertas da cidade em meio à chuva. Alguns minutos depois, pararam.
- Pronto, chegamos. É aqui que você mora, certo?  
Dora olhou para o prédio, estava em casa. Quando foi que isso aconteceu?
-S-sim...
- Bom, está entregue. Tome mais cuidado da próxima vez, é perigoso andar sozinha a essa hora.
- Sim, obrigada.
- Até a próxima!
Ficou olhando o homem se afastar. Quando não o via mais, entrou em casa. Jogou-se na cama e apagou. Pela primeira vez em dias, Dora dormiu tranquila.


CONTINUA

domingo, 25 de março de 2012

O caso San Zhi - Final




Dia 22 de junho de 1988 - Resort San Zhi - continuação

Lena olhou para trás e viu que Tamashi a encarava com uma expressão séria. As crianças ao redor foram desaparecendo até que só restasse uma. Um vento gelado passava pelo corpo da assistente social. Uma sensação horrível que ela jamais esqueceria. Parecia não conseguir respirar, sentia medo. Aquela figura diante de seus olhos era tão... real. Lena esticou a mão em direção a Tamashi, precisava senti-lo. O garoto deu um passo para trás e riu.
- Brinque mais um pouco com a gente.
E desapareceu. Lena olhava assustada ao seu redor, mas não conseguia ver nada além da escuridão. Chamou por Chi, mas não obteve resposta. Levantou-se e correu, um pouco desnorteada, para onde imaginava estar o resort. De repente algo segurou seu tornozelo com força e ela caiu. Não conseguia enxergar nada, apenas sentia dor. Levantou-se novamente e voltou a correr com certa dificuldade, já conseguia ver as silhuetas das casas cápsulas iluminadas pela lua. Lena corria desesperada, não sabia o que estava acontecendo, não sabia o que fazer. Viu o que parecia ser um corpo perto de uma das casas. As vozes das crianças começaram a cantar novamente.


Dia 25 de junho de 1988 – Departamento de polícia de Taiwan

A assistente social novamente não aparecera para trabalhar naquela manhã. O policial Carl Smith sentia falta de sua colega Lena, desaparecida há três dias. Carl assumira o caso das crianças desaparecidas do orfanato, mas apesar de todos os esforços, ninguém foi encontrado.



   No dia 30 de junho de 1988, um memorial foi feito em homenagem a assistente social Lena Dilggmann e a todas as crianças desaparecidas.
   O orfanato de Taiwan permaneceu funcionando até o falecimento da diretora Naomi Inoue em dezembro de 2001. Sem candidatos para assumir o controle do lugar, as crianças foram transferidas para o orfanato da cidade mais próxima.
   Foi aprovado, por motivos de segurança em 2008, o pedido de demolição do abandonado Resort San Zhi. Mas devido a protestos da população local, o lugar permaneceu intacto. Segundo antigos moradores, entidades em forma de criança vagam pelo resort, devorando a alma de quem vagar por lá.
   Em 2009, o resort de San Zhi foi demolido. Uma escola foi construída no lugar. Há quem diga que, todo ano, alunos desaparecem misteriosamente e que a escola é assombrada pelo espírito de uma jovem moça.
   
FIM

domingo, 4 de março de 2012

A caixa vermelha - Cap. 2



CAPÍTULO 2



Um relâmpago brilhou no céu escuro. Alexia segurava, adormecida, a caixinha nas mãos. Quando abriu os olhos, se assustou. Quanto tempo ficara ali? Levantou-se e correu pela floresta até encontrar o caminho de volta para casa. A festa parecia já ter acabado, devia ser muito tarde. Procurou por Brandon, mas não o encontrou. Deveria ter pensado que ela já havia ido embora. O lugar estava bem bagunçado e o relógio estranho na parede marcava 4 horas da madrugada. Além de tudo de ruim que aconteceu, também perdera a festa. Quando ia começar a chorar novamente, viu Cristopher. Ele não estava muito sóbrio, mas estava lindo. 
- Ah, você ainda está por aqui? É... Alexia, certo?
- S-sim. Desculpe, eu perdi o horário. Já estou de saída.
- Tudo bem, festas são assim mesmo. Eu levo você em casa, é perigoso a essa hora na rua.
O coração de Alexia quase parou. Estava sozinha com Cristopher, ele lembrara de seu nome e ainda estava oferecendo uma carona; aquilo tudo só podia ser um sonho. Os dois permaneceram em silêncio quase todo o caminho, era como se o destino tivesse dado uma segunda chance de falar com Cristopher, mas Alexia simplesmente não conseguia dizer nada. Estava em choque.
- Então, qual delas é a sua casa?
- Ah, desculpe... É a segunda casa depois daquela cerca.
- Certo. Está entregue.
- Obrigada, Cristopher, nem sei como agradecer.
- Imagina, não foi nada. E pode me chamar de Cris.


Alexia se jogou na cama e começou a rir. Não conseguia acreditar no que aconteceu, era realmente maravilhoso. Faltavam apenas sete dias para a sua formatura e as coisas estavam começando a melhorar. Olhou para o retrato de sua mãe ao lado da cama e colocou a mão no pescoço, o pingente não estava mais lá. Alexia sentiu-se triste, mas logo lembrou-se novamente da formatura. Segurou o retrato com força.
- Você sempre sonhou com esse dia, não é, mãe? Com a minha formatura.
Logo adormeceu e, pela primeira vez, não sonhou com sua mãe.


Alexia passou o dia dormindo e pensando na noite anterior. Na manhã em que acordou para ir à escola, estava bem alegre. Colocou a melhor roupa que tinha e comeu seu bolo favorito no café. Na TV passava o noticiário da manhã. Alexia observava, um pouco distraída. Reparou na foto de um militar cujo corpo havia sido encontrado. Era um homem velho e de feições tristes. Sentiu certa tristeza pela morte do homem, ele lembrava um pouco seu avô. Tomou um copo de suco e foi para a escola, estava sentindo que o dia ia ser bom. O metrô estava cheio, mas conseguiu sentar-se ao lado de um senhor de cabelos brancos. Ele sorriu para Alexia; seu olhar era estranhamente familiar, parecia infeliz e distante. Na escola, as coisas pareciam um pouco estranhas também. As pessoas reparavam em Alexia e as vezes até sorriam ou davam bom dia. Na hora do lanche, Cristopher a convidou para sentar com ele e as outras pessoas populares, ficaram falando sobre a festa de formatura. Foi então que ela lembrou que não tinha um par. Por um instante pensou que talvez o seu desejo tivesse dado certo, que sua formatura seria como ela sempre sonhara. Ficou perdida em seus devaneios até que notou a capa do jornal que uma garota estava lendo. Era o militar que aparecera no noticiário, mas parecia que Alexia também o conhecia de outro lugar. Foi então que lembrou do velhinho do ônibus, e uma sensação horrível percorreu seu corpo.


CONTINUA

domingo, 12 de fevereiro de 2012

A caixa vermelha - Cap. 1



° Esta história foi escrita em homenagem ao livro Formaturas Infernais - coleção de contos de terror sobre formaturas, escrito por autoras de sucesso.
° Consequentemente acabei escrevendo a história mais no estilo romance infanto-juvenil; não ficou muito assustadora no início, o macabro da história acontece apenas no final (último capítulo). Mas ficou legal, vale a pena ler =D 




CAPÍTULO 1

Era noite e a lua brilhava no céu sem estrelas. Alexia pegou a caixinha vermelha e segurou-a frente à fogueira, logo tudo iria acabar. Olhou pela última vez o embrulho em suas mãos, quem dera nunca o tivesse encontrado. Mas agora já era tarde, tudo o que podia fazer era se livrar daquilo. Jogou a caixinha no fogo e observou-a queimar lentamente. As lembranças de tudo o que passara vieram a sua mente e lágrimas escorreram de seus olhos.


Era uma noite igual aquela quando aconteceu. Alexia estava numa festa, acompanhada de seu melhor amigo Brandon, mas não estava se divertindo. Olhava para os lados à procura de uma certa pessoa, mas sempre que a encontrava desviava o olhar rapidamente.
- Tem certeza de que não quer dançar, Ale?
- Tenho.
- Então... Ir na praia ou algo assim. Parece que fizeram uma fogueira por lá e a música está boa.
- Não, obrigada. Estou bem aqui.
- Você não parece bem.
- Olha, B, pode ir, ok? Eu vou ficar bem aqui, vá se divertir.
- Não quero deixar você sozinha, Ale.
- Mas eu quero ficar sozinha. Não se preocupe, pode ir.


Meio relutante, Brandon se levantou. Conhecia bem a amiga teimosa e sabia que não iria convencê-la, mas era realmente chato vê-la ali emburrada. Alexia começou a olhar novamente ao redor, dessa vez fixando bem os olhos naquela figura perfeita no bar. Sem dúvida ele era o amor de sua vida, quem dera reparasse nela. Seu nome era Cristopher, um garoto popular da escola; líder do time de basquete, bonito e inteligente. Alexia se apaixonou por ele desde o primeiro ano do ensino médio, quando o viu pela primeira vez. Queria muito falar com ele, mas estava sempre rodeado de garotas e muito ocupado com festas. Alexia sabia que, para Cristopher, ela era apenas a garota do armário do lado, mais nada. As poucas palavras que trocava com ele no corredor a deixavam feliz e cada vez mais certa de que ele era o cara perfeito. E agora que finalmente havia conseguido um convite para uma de suas festas, estava ali, sentada, sozinha e sem coragem para ir falar com ele. Alexia se sentia patética, não podia continuar com essas atitudes infantis. Cristopher jamais iria gostar. Olhou novamente para o bar, ele ainda estava lá, mas agora sozinho. O coração de Alexia disparou, era sua chance, uma chance do destino. Ela tinha que ir falar com ele, era agora ou nunca. Levantou-se rapidamente e caminhou em direção ao bar, sem tirar os olhos de seu amado. Sentia-se firme, corajosa, ia falar com ele e tudo daria certo. Chegando ao bar, parou bem atrás de Cristopher. Quando ia tocar seu ombro, uma garota loira e bonita sentou ao lado dele e o beijou. Naquela hora, Alexia queria morrer.


   Alexia saiu da festa, chorando entristecida. A primeira e única oportunidade para falar com seu amor, perdida. Correu até não aguentar mais e caiu de joelhos, justo quando começou a chover. Estava perdida na floresta que rodeava a casa, saíra da trilha. Enxugou as lágrimas e olhou para o céu repleto de nuvens, parecia ser o fim. Levantou-se e tentou achar o caminho de volta, precisava voltar para casa, o único lugar onde se sentia protegida e confortável. Depois de muito andar, encontrou uma trilha; mas não parecia ser a que levava de volta à casa. Mesmo assim resolveu segui-la. Chegou a uma pequena casinha onde as luzes se encontravam acesas. Não havia porta e as janelas eram bem pequenas. Alexia entrou para abrigar-se da chuva que piorava e sentou-se num pequeno banquinho. O lugar parecia algo como um santuário, para rezar e refletir, isolado do mundo. Desenhos antigos de rosas e corações decoravam o lugar, e no que parecia um altar havia uma pequena caixinha vermelha. Curiosa, Alexia levantou e pegou a caixa. Tinha um desenho de coração na tampa, decorado com um cadeado e uma chave presos à corrente. Não tinha nada trancando a caixa, o que fez Alexia pensar que não haveria problema em dar uma espiadinha. Levantou a tampa lentamente e deparou-se com uma caixa vazia. Vazia como seu coração.
   Olhou para o altar, havia uma pequena plaquinha onde estava escrito "Sonhos podem converter-se em realidade, cuidado com o que deseja". Alexia riu; seu sonho se tornar realidade era impossível, sempre foi. Examinou a caixinha em suas mãos e percebeu que havia algo escrito no fundo.
- Um sonho em troca de algo precioso.
Aquele lugar era mesmo misterioso, mas transmitia uma sensação boa e aconchegante. Alexia segurou o pingente do seu colar. Era um anel que ganhara de sua falecida mãe, algo precioso. Retirou o pingente e colocou-o na caixinha, fechou-a e fez um desejo, depois devolveu ao altar. Sabia que seu desejo jamais se tornaria realidade, mas queria fazer aquilo. Talvez um fio de esperança pudesse manter vivo seu coração despedaçado.


CONTINUA

quarta-feira, 8 de fevereiro de 2012

Fechadura







Quando ouvi esta história pela primeira vez achei bem sinistra. Imagino que dê mais medo contando ou escrevendo do que numa tirinha , então vou contá-la a minha maneira e com um pouco mais de emoção =D

Robert estava dirigindo há 3 horas sem parar, não aguentava mais. De acordo com o mapa já deveria ter encontrado um pequeno hotel de beira de estrada; para piorar começara a chover e dirigir a noite não era muito agradável, além de ser perigoso. Alguns minutos depois enxergou uma placa ao longe, sentiu-se aliviado, deveria ser ali. E era mesmo. O lugar era bem velho, todo de madeira e com uma decoração antiga, parecia mais com um museu. Na recepção havia apenas um senhor de idade, estava quase dormindo em cima do balcão e nem viu Robert chegar, provavelmente estava cansado devido a hora. 
- Ah, com licença senhor. Eu gostaria de alugar um quarto.
O homem olhou assustado para Robert e sorriu, não tinha tido muitos clientes ultimamente.
- Mas é claro, seja bem-vindo! Por favor, fique à vontade.
- Obrigada.
- Aqui está a chave. Quarto cinco, é no primeiro andar à direita. 
- Sim, muito obrigada. 
- Eu que agradeço, tenha uma boa noite. 


   Robert foi para o quarto. A cama não era muito confortável e o banheiro demasiadamente pequeno, mas como estava cansado tomou uma ducha rápida e foi deitar. Já havia perdido a fome e logo adormeceu. Acordou algumas horas mais tarde ouvindo alguns barulhos na parede, vindos do quarto ao lado. Olhou o relógio, eram 3 horas da manhã. Tentou ignorar e dormir de novo, mas era impossível. Robert deu um soco na parede e pediu silêncio, o barulho parou seguido de um grito. Robert levantou-se assustado, o que estava acontecendo naquele quarto? Colocou uma camiseta e bateu na porta do quarto de número seis, ninguém respondeu. Tentou abrir e nada. Olhou então curioso pela fechadura e viu tudo vermelho. Não querem ser incomodados, pensou. Como os barulhos pararam, voltou a dormir. 
   Na manhã seguinte, Robert tomou seu café e foi acertar as contas na recepção. Comentou com o senhor o que havia acontecido na madrugada. O velhinho olhou-o, intrigado.
- Quarto seis? Está fechado faz anos. Uma mulher morreu lá, desde então interditamos o lugar. Mas dizem que seu espírito ainda vive ali e tudo o que se sabe é que seus olhos são vermelhos.

quinta-feira, 26 de janeiro de 2012

O caso San Zhi - Cap.4



Dia 22 de junho de 1988 - parque de Taiwan


Lena caminhava pelo parque, observando as folhas caírem das árvores. Sua mente vagava em busca de respostas. Acontecera de novo. Apesar de todas as providências tomadas, Chi desaparecera novamente, levando mais duas crianças consigo. Não havia explicações para o fato de três crianças conseguirem escapar do orfanato, não com a polícia de vigia. Se Chi retornasse, teriam que manter uma vigilância de 24h. 


Dia 22 de junho de 1988 - orfanato


   No grande escritório do orfanato, Lena examinava vários arquivos. Registros de crianças desaparecidas há anos e que nunca foram encontradas. Tentava relacionar as histórias com o caso de Chi. O orfanato escondia um passado obscuro, nem todos aqueles relatos estavam registrados no departamento de polícia, não a maior parte deles. A mente de Lena se perdia em meio a tantos rostos de crianças desaparecidas, até que uma em especial chamou sua atenção. Era de menino desaparecido há 30 anos, seu rosto lhe era familiar. Naomi entrou no escritório e sentou ao lado da assistente social.
- Esse é meu filho. Não de sangue, mas é como se fosse. 
- O que aconteceu com ele?
- Desapareceu. Saiu para brincar e nunca mais voltou. Apesar da polícia ter desistido, eu continuei procurando.
- Eu sinto muito, Dona Naomi.
- Então comecei a trabalhar no orfanato. Ele gostava muito de brincar com outras crianças, achei que seria um meio de não perder a esperança.   
- Entendo.
- Com o tempo comecei a achar que era melhor esquecer, ele não iria voltar. Então me apeguei às crianças daqui, a esse lugar.
- E todas essas crianças desaparecidas, o que aconteceu?
- Eu não sei. Apesar de toda a segurança, alguma desaparecia. Isso sempre aconteceu, muito antes de eu vir para cá.


    Lena ficou intrigada, aquilo tudo era muito curioso e certamente não era normal. Guardou todas as folhas e retratos, resolveu dar uma volta pelo casarão. Passou por todos os cômodos, observando cada detalhe. Ficou um tempo no quarto que pertencia a Chi, mas não achou nada fora do normal. Voltou para o hall de entrada e ficou pensando, casas antigas como aquela sempre tinham passagens escondidas. Continuou andando. Dessa vez foi para cozinha. Até que aquele lugar era aconchegante. Uma pequena porta aos fundos chamou sua atenção, parecia uma pequena despensa. Lena abriu a porta, mas não conseguia enxergar nada, estava escuro demais. Pegou a lanterna e conseguiu ver uma pequena escada sumindo no escuro, parecia um porão. Se tivesse um acesso ao lado externo da casa, era um lugar perfeito para fugir. Desceu a escada com cuidado, iluminando cada degrau. Era um porão bem comum, com caixas velhas e algumas coisas quebradas, nada fora do normal. O lugar parecia não ter fim, seria mais fácil examiná-lo se tivesse luz lá embaixo, mas teria que se contentar com a lanterna. Lena estava quase desistindo de achar alguma coisa quando viu o que parecia ser uma janela muito velha; estava bem alta e havia uma caixa logo embaixo que poderia servir de escada. Bingo. 
   
Lena correu para o lado de fora da casa, olhando atentamente para o chão em busca da janela; não encontrou nada. Tinha certeza que havia uma saída do porão para a rua, iria encontrar. Depois de algum tempo procurando, resolveu tentar nos arbustos que ficavam junto à parede. Com um pouco de dificuldade, agachou-se e abriu caminho entre os galhos; conseguiu ver um pedaço da pequena janela do porão. Então foi por ali que eles fugiram. Satisfeita, voltou para a casa e contou sua descoberta a Dona Naomi para que esta tomasse providências. Já estava começando a escurecer, era hora de voltar para casa. Lena entrou no carro, fechou os olhos e respirou fundo, era um alívio saber que agora poderiam evitar os desaparecimentos. Quando estava prestes a sair, viu um menino entre as árvores que cercavam uma parte do casarão. Saiu do carro e foi até ele. Era Chi. Estava com a mesma expressão vazia no rosto, um olhar fundo e assustador.


- Chi! Meu Deus, onde você estava? Escute, Chi, você precisa me dizer aonde está levando os seus amigos.
- Estou levando eles para brincar. - respondeu o garoto com um sorriso no rosto.
- E onde vocês estão brincando? Sabe onde eles estão agora?
O sorriso do menino sumiu. Fitou Lena seriamente.
- Você quer brincar com a gente, moça?
Lena sorriu com uma sensação de vitória.
- Eu adoraria, Chi.      


Dia 22 de junho de 1988 - arredores da cidade


Chi conduzia Lena em silêncio pela floresta e por caminhos estranhos. A assistente social não falava nada, não queria que o garoto mudasse de ideia. Sabia que era um pouco arriscado o que estava fazendo, não sabia com que tipo de gente teria que lidar; no entanto, já estava farta daquilo tudo e sabia tomar cuidado. De repente, o garoto parou. Lena olhou ao redor, estavam na entrada do resort abandonado. Chi soltou sua mão e foi na frente. Ela o seguiu em silêncio e atenta para qualquer movimento suspeito. Lena já havia visto o lugar por fotos, mas nunca estivera lá pessoalmente. O famoso resort de San Zhi era realmente bonito durante o dia, e muito assustador a noite; parecia de fato uma cidade fantasma. Atravessaram o resort até chegar do outro lado do grande lago. Lena podia ouvir crianças cantando ao longe. 


Cesto, Cesto. A ave dentro do cesto. 


À medida que chegavam mais perto, as vozes ficavam mais altas. Mas não havia ninguém.


Quando, quando irá sair? Ao amanhecer. 


 Então Lena pôde ver, eram crianças. Aqueles rostos, todos eram familiares; parecia um sonho. Lena reconheceu as crianças dos retratos de desaparecidos, as crianças que sumiram do orfanato e até... o filho de Naomi. Agora ela se lembrava. A pasta velha em seu escritório, o garoto desaparecido há 30 anos. Lena caiu do joelhos na grama, não podia acreditar no que estava vendo. As crianças a cercaram andando em círculos à sua volta, de mãos dadas, e continuaram a cantar. 


A tartaruga e o corvo escorregaram. Quem está atrás de mim?


Então pararam. Lena só conseguia pensar em uma coisa: o filho desaparecido de Naomi.
- Tamashi...
As crianças riram, menos a que se encontrava atrás dela. 


CONTINUA

Kagome Kagome



Kagome Kagome é uma brincadeira infantil japonesa. Uma criança é escolhida como "oni", essa criança senta no chão com os olhos vendados. As outras crianças juntam as mãos e andam em círculos em volta do oni enquanto cantando uma música. Quando a música para o oni tem que falar qual é a pessoa que está atrás dele, se ele estiver correto, a pessoa atrás dele vira o oni.
fonte -  http://pt.wikipedia.org/wiki/Kagome_Kagome 

Essa brincadeira virou tema de muitas músicas e histórias de terror, onde a criança sentada no meio, o oni, seria morta caso errasse quem era a pessoa que estava atrás. Existem várias versões de músucas para serem cantadas nessa brincadeira. Segue a mais conhecida:


Kagome, kagome                                                  
Kago no naka no tori wa.
Itsu, itsu deyaru?
Yoake to ban ni.
Tsuru to kane kame ga subetta.
Ushiro no shoumen dare?   

TRADUÇÃO

Cesto, cesto.
A ave dentro do cesto.
Quando, quando irá sair?
Ao amanhecer.
A tartaruga e o corvo escorregaram.
Quem está atrás de mim?

Um vídeo legal e que ilustra essa brincadeira de forma sombria é Kagome Kagome do Vocaloid